Jéssica Marques, candidata do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), foi a quarta candidata a vereadora mais votada nas eleições municipais de São José dos Campos, realizadas no último domingo (06/10). Com 8.156 votos, ela ficou atrás apenas de Amélia Naomi (PT), que liderou com 8.679 votos, Fabião Zagueiro (PSD), com 8.310 votos, e Thomaz Henrique (PL), com 8.221 votos. CLIQUE AQUI E ENTRE NO NOSSO CANAL DO WHATSAPP E RECEBA AS NOTÍCIAS EM PRIMEIRA MÃO
Mesmo com o resultado expressivo nas urnas, Jéssica não conseguiu garantir uma cadeira no legislativo devido ao quociente eleitoral, que determina a distribuição de vagas para cada partido com base no total de votos válidos.
Durante entrevista ao Vale 360 News na noite desta quarta-feira (09/10), Jéssica abordou as dificuldades enfrentadas pela sua candidatura e explicou em detalhes as regras do sistema eleitoral, que foram decisivas para impedir que ela ocupasse uma das 21 vagas na Câmara Municipal. A candidata também aproveitou a ocasião para compartilhar sua visão sobre a representatividade feminina no legislativo e como pretende continuar sua atuação política na cidade.
Um desempenho expressivo, mas sem direito à vaga
Nas eleições municipais de 2024, Jéssica Marques obteve um dos melhores desempenhos entre os candidatos, superando diversos veteranos do legislativo e outras lideranças políticas. Com 8.156 votos, ela conquistou a confiança de milhares de eleitores, especialmente das periferias e dos bairros mais carentes de São José dos Campos. No entanto, devido ao sistema proporcional vigente no Brasil, a distribuição das cadeiras não é baseada apenas na quantidade de votos individuais, mas sim no total de votos obtidos pelo partido ou pela federação.
“A quantidade de votos que recebi é um reflexo do trabalho que venho desenvolvendo na cidade ao longo dos últimos anos, defendendo uma política mais inclusiva e transparente. Infelizmente, as regras eleitorais atuais criam uma distorção e acabam premiando candidatos que não possuem a mesma representatividade. É desanimador saber que pessoas com um número expressivo de votos, como eu, ficam de fora, enquanto outras com menos votos garantem uma vaga por estarem em partidos maiores”, comentou Jéssica durante a entrevista.
A candidata explicou que, para conquistar uma vaga no legislativo, cada partido ou coligação precisa alcançar um número mínimo de votos, conhecido como quociente eleitoral. Esse valor é obtido ao dividir o total de votos válidos pelo número de cadeiras disponíveis na Câmara. No caso de São José dos Campos, foram 362 mil votos válidos para 21 cadeiras, resultando em um quociente de 17.281 votos. Apenas partidos que atingiram esse número conseguiram eleger representantes diretamente.
“Essa regra impede que a vontade popular, expressa pelo voto direto, se reflita na composição do legislativo. É uma forma de exclusão que afeta principalmente partidos menores e que não têm os mesmos recursos e estruturas dos grandes partidos”, acrescentou.
Regras eleitorais complexas e distorções no processo democrático
Jéssica Marques explicou que as mudanças recentes no quociente eleitoral, introduzidas em 2022, criaram mais desafios para partidos como o PSOL. As novas regras incluem uma cláusula que exige que cada partido atinja 80% do quociente eleitoral para concorrer às vagas remanescentes. Essa alteração, segundo Jéssica, dificultou ainda mais a conquista de cadeiras por partidos menores, que já enfrentavam barreiras estruturais e financeiras.
“A regra dos 80% inviabiliza a entrada de partidos pequenos, mesmo quando têm candidatos bem votados. Em vez de promover uma renovação política e dar espaço para novas ideias, esse sistema mantém os grandes partidos no poder e impede que a voz de grupos sociais menos representados chegue ao legislativo”, analisou.
Além disso, a candidata mencionou outra regra que afeta diretamente a composição das câmaras municipais: a exigência de que cada vereador eleito pelo critério dos 80% tenha ao menos 20% dos votos do quociente eleitoral. “Essa combinação de regras cria um cenário em que candidatos que seriam legítimos representantes da população acabam sendo excluídos do processo, enquanto candidatos com menos votos garantem a eleição.”
Um panorama político marcado por desafios e desigualdades
Ao falar sobre o contexto político atual, Jéssica destacou que a falta de representatividade e a baixa renovação são alguns dos principais problemas enfrentados nas casas legislativas de todo o Brasil. Em São José dos Campos, a situação se repetiu: das 21 cadeiras na Câmara Municipal, apenas cinco serão ocupadas por novos parlamentares, mantendo uma predominância de figuras que já exercem o mandato há várias legislaturas.
“A renovação na Câmara de São José dos Campos foi mínima. Continuamos vendo as mesmas figuras políticas, que, em muitos casos, não representam os interesses da população como um todo. São candidatos que contam com um grande aparato financeiro e apoio institucional, o que facilita a reeleição”, afirmou.
Ela também chamou a atenção para a diminuição da representatividade feminina na Câmara, com a redução do número de mulheres eleitas em comparação ao último pleito. “Perdemos uma vaga feminina no legislativo, e isso é reflexo da estrutura desigual do sistema eleitoral e da sociedade. Muitas candidaturas femininas não recebem o apoio necessário dentro dos próprios partidos, sendo tratadas apenas como forma de preencher cotas.”
Financiamento de campanha e impacto no resultado eleitoral
Outro ponto abordado por Jéssica foi a questão do financiamento de campanha. Com um orçamento limitado, ela contou com recursos provenientes do fundo partidário e de doações de militantes e apoiadores. Ao todo, a candidata investiu 70 mil reais em sua campanha, um valor consideravelmente inferior ao de muitos dos eleitos.
“Enfrentamos uma campanha com poucos recursos, mas com muito apoio voluntário. Cada voto que recebi foi fruto de um trabalho genuíno, sem depender de verbas milionárias ou apoio de grandes financiadores. Ao contrário de muitos candidatos que gastam mais de 200 mil reais para garantir a eleição, nós fizemos uma campanha de base, com pessoas comprometidas com nossas propostas e que acreditam em um projeto político diferente”, destacou.
Para Jéssica, o modelo de financiamento de campanhas políticas favorece candidatos que têm acesso a grandes somas de dinheiro, criando um desequilíbrio na disputa eleitoral. “Quando os recursos são desproporcionais, a igualdade de oportunidades deixa de existir. Muitos eleitores não votam por conhecer as propostas dos candidatos, mas sim por serem impactados por campanhas publicitárias caras e pela presença massiva de propaganda nas ruas e nas redes sociais.”
A militância como ferramenta de transformação social
Apesar do resultado das eleições, Jéssica se mostrou otimista quanto ao futuro e garantiu que continuará sua militância na cidade. Para ela, a política não se limita ao período eleitoral e deve ser feita cotidianamente, por meio de ações concretas e mobilização social.
“Os 8.156 votos que recebi são um reflexo de um trabalho contínuo e comprometido com a população de São José dos Campos. Não é uma derrota que vai nos desanimar. Continuarei atuando em defesa da educação pública, dos direitos das mulheres e das minorias, seja dentro ou fora do legislativo. Vamos fortalecer a luta em movimentos sociais, sindicatos e associações de bairro. A eleição é apenas uma etapa de um processo maior,” declarou.
Expectativas para a atuação do PSOL e articulações futuras
Com a derrota nas urnas, Jéssica reafirmou seu compromisso em fortalecer o PSOL em São José dos Campos e ampliar a base de apoio para as próximas eleições. A candidata revelou que já tem recebido diversos convites para filiação e manifestações de apoio de pessoas interessadas em participar das atividades do partido.
“A eleição deixou claro que existe um espaço para a construção de uma alternativa política na cidade. Vamos trabalhar para organizar novas atividades, mobilizar a militância e expandir nossa atuação nos bairros e comunidades. A luta por um legislativo mais representativo continua, e estamos prontos para enfrentar os desafios que virão.”
Além disso, Jéssica mencionou que continuará articulando emendas parlamentares e projetos sociais em parceria com a bancada estadual e federal do PSOL. “Já conseguimos, em parceria com a bancada feminista de São Paulo, uma emenda de 200 mil reais para o Hospital da Mulher. É um recurso pequeno comparado ao que a cidade arrecada, mas é um exemplo de como podemos atuar mesmo sem estar no legislativo. Nossa prioridade será garantir que a população mais vulnerável tenha acesso aos direitos básicos, como saúde, educação e infraestrutura.”
Considerações finais e perspectivas para a próxima eleição
Encerrando a entrevista, Jéssica destacou que os próximos anos serão de preparação para a próxima eleição municipal. “Vamos trabalhar para não cair mais na barreira do quociente eleitoral e garantir que as regras do jogo sejam mais justas. A política é feita no dia a dia, e continuaremos ao lado dos trabalhadores e das comunidades de São José dos Campos, mostrando que é possível construir uma cidade mais justa e igualitária.”
Apesar de não ter sido eleita, Jéssica Marques reafirma seu compromisso com a luta por direitos e com a transformação social. Sua trajetória, marcada por um desempenho expressivo nas urnas e por uma militância constante, mostra que a política vai além do resultado eleitoral e que cada voto recebido representa a força de um projeto que segue vivo e firme para o futuro.
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Criador e proprietário do site vale360news.com.br, jornalista com especialização em Gestão da Comunicação de Mídias Digitais e com passagens pelas Rádios Globo e CBN, do Grupo Globo, em São Paulo, onde foi Chefe de Reportagem, apresentador, repórter e produtor. Jesse ainda coleciona passagens pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação e outras emissoras de rádio e TV do Vale do Paraíba.
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