Entenda como os carros contam parte da história do Brasil no CARDE, o museu do carro de Campos do Jordão

Os automóveis fazem parte do cotidiano, mas poucos se dão conta de que eles também contam histórias sobre a construção da sociedade. No CARDE (Carro, Arte, Design e Educação), o Museu do Carro de Campos do Jordão, os veículos vão além de sua função utilitária e se tornam protagonistas de narrativas que ajudam a entender o Brasil. Cada carro exposto no museu está associado a momentos marcantes da história nacional, tornando a visita uma verdadeira aula sobre cultura e memória. CLIQUE AQUI E ENTRE NO NOSSO CANAL DO WHATSAPP E RECEBA AS NOTÍCIAS EM PRIMEIRA MÃO

Com base em três anos de pesquisa liderada pela professora de história Heloísa Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o museu apresenta um acervo cuidadosamente estudado. Os automóveis são contextualizados em suas épocas, com histórias que vão desde o movimento abolicionista até os anos dourados da Bossa Nova, passando por momentos de transformação política e social, como a Revolução de 1930. Foram estudados até o momento cerca de 200 veículos do acervo de mais de 500 unidades do museu.

Entre os destaques está a sala “Uma grande história de amor”, sobre o relacionamento de Henrique Lage e Gabriella Besanzoni. O cenário do romance foi monumental: o Palacete do Parque Lage, no Rio de Janeiro, retratado na cenografia desse requintado espaço no CARDE. Nos anos de 1920, o empresário bem-sucedido Henrique Lage remodelou essa construção existente para transformá–la em um palácio para sua amada esposa, a cantora lírica Gabriella Besanzoni. Além do palácio, mais um presente foi especial preparado para agradar a amada: um Isotta Fraschini, importado da Europa, um dos carros mais luxuosos do mundo à época, com detalhes exclusivos. A unidade em exposição possui o número de identificação #810. Finalizada em 1925, ostenta desenho exclusivo assinado pela Carrozzeria Castagna, prestigiada encarroçadora milanesa. Uma verdadeira joia sobre quatro rodas.

Além dos carros, o CARDE, braço da Fundação Lia Maria Aguiar, oferece uma experiência interativa com filmes, músicas, anúncios publicitários e imagens de época. Tudo isso é enriquecido pelo trabalho de monitores especializados, que ajudam a transformar a visita em um mergulho profundo na história do Brasil. A proposta do museu é mostrar como os automóveis, tão presentes em nosso dia a dia, também são faróis que iluminam caminhos do passado e refletem a construção de uma identidade nacional.

Como surgiu a ideia de conectar a história do Brasil aos carros expostos no CARDE?
“A ideia veio de um desafio interessante. Quando o responsável pelo projeto me mostrou a proposta, eu questionei: ‘Nós vamos conversar sobre carros? Todo mundo tem uma história de carro, mas ela é muito pessoal.’ Ele insistiu, e eu pedi a lista dos veículos disponíveis. Foi aí que percebi que esses carros podiam ser como faróis, iluminando caminhos do nosso passado.”

Pode citar um exemplo de como isso se dá?
“Claro! Um dos carros expostos é uma Rural usada nas expedições de Bernardo Sayão, o engenheiro responsável pela construção da rodovia Belém-Brasília. Ele enfrentou desafios enormes, como a dificuldade de levar mantimentos para as equipes no meio da floresta. Na época, os suprimentos eram lançados de aviões e, para que fossem encontrados, ele usou uma técnica criativa: colocava gatos vivos dentro dos sacos de lona, que miavam ao cair, ajudando as equipes a localizar os mantimentos. Essa história é fascinante e nos faz refletir sobre os esforços para integrar o Brasil, saindo do litoral para o interior.”

Além de histórias como essa, o que mais o público pode esperar no museu?
“O museu é um espetáculo de pesquisa e narrativa. Não é apenas sobre carros; é sobre a construção da identidade brasileira. Temos anúncios publicitários históricos, como os que mostram moças combinando roupas com o estofamento dos Fuscas. Há filmes, músicas, imagens em movimento e histórias saborosas que falam da imaginação cultural brasileira.”

Quantos carros foram estudados para compor o acervo?
“Estudamos cerca de 200 veículos. Nem todos estão no museu, mas foram fundamentais para entender o contexto histórico. Por exemplo, há carros que transportaram políticos, reis e rainhas, e que participaram de momentos marcantes como a Revolução de 1930, o movimento abolicionista e até a era da Bossa Nova.”

Essa pesquisa terá outros desdobramentos?
“Sim! Estamos preparando, junto com o museu, três volumes que serão lançados no próximo ano, reunindo toda a pesquisa. Nossa missão na universidade pública é produzir conhecimento de ponta e devolvê-lo ao povo brasileiro.”

Quanto tempo levou essa pesquisa?
“Já estamos há três anos nesse trabalho, ininterruptamente. É um processo contínuo, porque sempre surgem novas descobertas.”

E os monitores do CARDE, como eles contribuem para a experiência do visitante?
“Os monitores são excepcionais. Eles não apenas respondem perguntas, mas também provocam reflexões e contam histórias que enriquecem a visita. Recomendo que os visitantes aproveitem essa interação. É algo que diferencia o CARDE de outros museus.”

O CARDE está localizado em Campos do Jordão e convida o público a explorar como os carros refletem os muitos Brasis. É uma viagem cultural que conecta máquinas e memória, reforçando o papel dos veículos na construção da identidade nacional.